5 de setembro de 2011

Fingimento!

Fingir... Sim, finjo para ti, para mim. Finjo! E são vazias e ocas de emoções, as palavras largadas na folha de papel branco, alva como a neve, na qual as frases se constroem, se amontoam como pilhas de tijolos arrumadinhos e encastelados prontos a serem derrubados, ou derretidos pelos raios quentes do verão. Finjo nos intervalos dos silêncios que preenchem as escassas lágrimas que me lavam o rosto, e me tingem o regaço de púrpura, a cor da paixão, a minha por ti, aquela que se perdeu nas entrelinhas da distância. Finjo que tudo está bem, sempre! Para ti, para mim! Finjo, como uma forma de fuga à realidade translúcida do teu olhar amargurado. Troco palavras por múmurios silenciosos e canto, bela e serena, a canção da vida como o desabrochar da primavera, ao leve som do sibilar das aves migratórias. Finjo! Finges! E passamos a vida a fingir que as ruas do nosso entendimento são belas, largas, plenas de sentimentos, e as palavras não são como as pedras da calçada, frias, cinzentas e estáticas, num presente imóvel da imaginação. Finjo! Sempre! Para um espelho de reflexos imperceptíveis da vulgaridade que me povoa a mente, ou quiçá, vagueia por estradas empoeiradas do tempo. Finges e eu finjo para ti! Para o mundo! Para a imagem reflectida no espelho dobrado que existe na minha mão, fechada, encerrada de sentimentos, acções e emoções. Finjo... apenas e só! Um fingimento sem inicio nem fim. E continuamos a fingir... que a roupa que visto hoje é a que me assenta melhor, quando já está gasta pela corrosão das intemperies internas, sim, aquelas que avassaladoramente provocam embolias na alma, e dores crónicas no coração. Finges! Finjo! Que somos nós que puxamos e governamos os cordeis das marionetas que actuam no nosso palco, onde todas as cenas já foram encenadas, e as falas decorados num passado longíncuo e áspero como a terra do deserto ressequida e gretada pelo sol intenso. Vá! Vamos continuar a fingir! Sempre e para sempre!...


Participação no tema de Setembro

2 comentários:

Eva Gonçalves disse...

Gostei do texto embora deprimente... é sempre triste quando um casal sente a necessidade de fingir constantemente. Infelizmente, sabemos que acontece. Penso que retrataste bem o monólogo interior dessa luta constante entre saber que nada será como antes e a necessidade de continuar... Beijinho

Isa disse...

Eva,
Não costumo responder a comentários aqui, mas este texto é pura criação, embora existam centenas de casais que vivem assim.

Beijitos

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